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{"id":3566,"date":"2016-06-01T00:01:17","date_gmt":"2016-06-01T03:01:17","guid":{"rendered":"https:\/\/www.elyvidal.com.br\/?p=3566"},"modified":"2016-06-01T00:01:17","modified_gmt":"2016-06-01T03:01:17","slug":"os-intelectuais-de-esquerda-a-discordancia-como-ofensa-e-as-universidades-como-zonas-de-guerra","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.elyvidal.com.br\/os-intelectuais-de-esquerda-a-discordancia-como-ofensa-e-as-universidades-como-zonas-de-guerra\/","title":{"rendered":"Os intelectuais de esquerda, a discord\u00e2ncia como ofensa, e as universidades como zonas de guerra"},"content":{"rendered":"

\"\"<\/a><\/p>\n

Eis um fen\u00f4meno revelador de uma certa personalidade e mentalidade progressista: qualquer um que n\u00e3o reze pela cartilha, qualquer um que discorde de qualquer ponto ou aspecto da ideologia culturalmente dominante, n\u00e3o \u00e9 um indiv\u00edduo que discorda de um argumento A ou B, mas sim um agressor, um infame que ousa recusar-se a aceitar a superioridade da ideologia perfeita.
\nSe antes apenas alguns doutrin\u00e1rios e doutrinados das ideologias progressistas (muitas delas de esquerda) seriam capazes de pessoalmente se indignar com o interlocutor de forma ostensiva, com amea\u00e7as verbais e at\u00e9 agress\u00f5es f\u00edsicas, hoje tal comportamento de indigna\u00e7\u00e3o agressiva virou moeda comum gra\u00e7as ao conforto, prote\u00e7\u00e3o e dist\u00e2ncia f\u00edsica propiciada pela internet. Para muitos desses progressistas das esquerdas de variadas matizes (e n\u00e3o s\u00f3 para eles), a internet \u00e9 um poderoso estimulante comportamental, como a coca\u00edna ou o crack para criminosos.<\/p>\n

Usando a tela e o teclado como escudos, difamam, injuriam, caluniam e passeiam por outros artigos do c\u00f3digo penal sem o menor escr\u00fapulo ou drama de consci\u00eancia. O fazem porque se consideram inimput\u00e1veis legalmente e ideologicamente. E se acham inimput\u00e1veis porque se veem alicer\u00e7ados e justificados no pensamento pol\u00edtico e cultural dominante gerado e legitimado pelos intelectuais e difundido e ratificado pela intelligentsia.[1]<\/p>\n

Se a cosmovis\u00e3o que lhes \u00e9 transmitida pela maioria dos professores do ensino fundamental \u00e0 universidade, onde ganha uma roupagem cient\u00edfica, com aceita\u00e7\u00e3o ativa ou passiva dos pais, familiares, amigos e colegas, \u00e9 ratificada e ampliada por certa imprensa, comentaristas, personalidades culturais, intelectuais e at\u00e9 mesmo empres\u00e1rios, \u00e9 compreens\u00edvel que considerem-na correta, como a \u00fanica e perfeita resposta para todos os problemas ocorridos dentro da sociedade.<\/p>\n

Quando se acredita acriticamente em uma ideia ou em um corpo de ideias como sendo um instrumento de perfei\u00e7\u00e3o e de resolu\u00e7\u00e3o plena e absoluta de todas as quest\u00f5es que regularmente emergem na vida em sociedade \u2014 a qual \u00e9 formada pela intera\u00e7\u00e3o entre indiv\u00edduos com desejos, anseios, vontades e objetivos diferentes \u2014, a imperfectibilidade intr\u00ednseca a qualquer cria\u00e7\u00e3o humana \u00e9 simplesmente ignorada ou estrategicamente descartada, para que a ideologia cumpra o seu destino hist\u00f3rico.<\/p>\n

Dessa forma, uma posi\u00e7\u00e3o contr\u00e1ria \u00e0quele sistema de pensamento, \u00e0quela mentalidade, \u00e0quela falaciosa estrutura de utopia realiz\u00e1vel no futuro, n\u00e3o \u00e9 entendida ou assimilada como aquilo que realmente \u00e9, mas como uma afronta, uma ofensa, uma rea\u00e7\u00e3o est\u00fapida e d\u00e9bil a uma manifesta\u00e7\u00e3o superior de intelig\u00eancia.<\/p>\n

O tom de toda rea\u00e7\u00e3o esquerdista \u00e9 similar: “como ousas me questionar?”.<\/p>\n

A influ\u00eancia dos intelectuais em uma democracia pode ser imensa ou crucial no curso do desenvolvimento social, a depender “das circunst\u00e2ncias adjacentes, incluindo os n\u00edveis de liberdade para a propaga\u00e7\u00e3o de suas ideias, em vez de se tornarem meros instrumentos de propaganda, como acontece nos pa\u00edses totalit\u00e1rios”.[2]<\/p>\n

E quanto mais amplo o ambiente de liberdade em que o intelectual progressista pode se expressar e exercer a sua influ\u00eancia, maior a possibilidade de convencimento e persuas\u00e3o de uma parte da sociedade em rela\u00e7\u00e3o a ideias que p\u00f5em em risco exatamente esse ambiente de liberdade que permitiu a propaga\u00e7\u00e3o destas ideias.<\/p>\n

O professor Mark Lilla, que dissecou o assunto em seu excelente The Reckless Mind: Intellectuals in Politics, relata que “professores distintos, poetas talentosos e jornalistas influentes reuniram suas habilidades a fim de convencer, a todos os seus ouvintes e admiradores, que os tiranos modernos eram libertadores e que seus crimes hediondos eram nobres \u2014 bastava v\u00ea-los sob a perspectiva correta”.<\/p>\n

Aquele que se dedicasse a “escrever, honestamente, sobre a hist\u00f3ria intelectual do s\u00e9culo XX na Europa”, advertiu Lilla, teria “que ter est\u00f4mago forte”.[3]<\/p>\n

Por qual raz\u00e3o os intelectuais progressistas e a intelligentsia atentam contra a sociedade e o ambiente de liberdade que os permitiu existir e se expressar?<\/p>\n

Uma parte da resposta talvez esteja em dois pontos claramente identific\u00e1veis: o primeiro \u00e9 se considerarem superiores aos demais indiv\u00edduos, como se fossem os eleitos, ou, para usar a express\u00e3o de Sowell, os ungidos[4], prontos para iluminar e conduzir a sociedade; o segundo \u00e9 uma peculiar vis\u00e3o de sociedade baseada na concep\u00e7\u00e3o de pessoas abstratas que vivem em um mundo abstrato, o que torna poss\u00edvel criar intelectualmente um modelo ideal de sociedade que exige a exclus\u00e3o da realidade f\u00e1tica.<\/p>\n

No primeiro ponto, a certeza da superioridade moral e ideol\u00f3gica faz com que esses intelectuais olhem para a humanidade como um problema inc\u00f4modo a ser resolvido, e com desprezo para os seus cr\u00edticos, convertidos em inimigos e sendo um mal a ser extirpado. Essa perspectiva transborda para a intelligentsia e anaboliza a f\u00faria dos inocentes \u00fateis (servidores p\u00fablicos, estudantes universit\u00e1rios, desempregados, ressentidos etc.). Muitos deles sequer sabem que s\u00e3o meros instrumentos de uma causa, mas agem em seus ambientes (em cursos de gradua\u00e7\u00e3o e departamentos universit\u00e1rios, por exemplo) como uma minoria hist\u00e9rica que se apresenta ao debate como leg\u00edtimos representantes dos grupos dos quais fazem parte (a maioria silenciosa, interessada em trabalhar ou estudar, acaba por ser afetada e denegrida).<\/p>\n

A internet, para a intelligentsia e seus inocentes \u00fateis, funciona como um megafone moderno. Eles ocupam as redes sociais, os espa\u00e7os de coment\u00e1rios de blogs e sites, criam seus pr\u00f3prios blogs e sites, muitos financiados pelo governo de turno, para vocalizar sua ideologia, hoje dominante, e atacar os inimigos. Tenho certeza de que voc\u00ea, leitor, em algum momento, j\u00e1 se deparou com um desses, mesmo que n\u00e3o tenha sido uma v\u00edtima direta dos ataques.<\/p>\n

O modus operandi \u00e9 sempre o mesmo, seja na a\u00e7\u00e3o ou na rea\u00e7\u00e3o. Sobrep\u00f5em temas freneticamente, lan\u00e7am informa\u00e7\u00f5es falsas ou adulteradas, distribuem acusa\u00e7\u00f5es as mais estapaf\u00fardias, muitas valendo-se de polilogismo. Fazem, enfim, o que podem para n\u00e3o permitir que nenhuma discuss\u00e3o prospere, pois isto exibiria a fragilidade dos argumentos ou a pr\u00f3pria ignor\u00e2ncia individual acerca do tema em quest\u00e3o. \u00c9 uma impossibilidade desenvolver um debate de ideias e uma ingenuidade esperar que possa hav\u00ea-lo. Trata-se, no mais das vezes, de perda de tempo e de um custo emocional.<\/p>\n

No que tange ao segundo ponto, ou seja, a vis\u00e3o social peculiar ancorada em pessoas abstratas vivendo em um mundo abstrato, a realidade, para esses intelectuais progressistas, \u00e9 um obst\u00e1culo a ser superado. Porque as pessoas reais e o mundo existente n\u00e3o podem ser moldados ou redesenhados de acordo com a teoria. Por outro lado, as pessoas e o mundo abstratos, aqueles que s\u00f3 existem num exerc\u00edcio te\u00f3rico de abstra\u00e7\u00e3o, podem ser concebidos, remodelados, reprogramados segundo a necessidade circunstancial e as conting\u00eancias.<\/p>\n

Assim, quando o regime no poder decide aplicar \u00e0 realidade o sistema constru\u00eddo sob as abstra\u00e7\u00f5es, h\u00e1 um choque violento que resulta em v\u00edtimas de carne e osso. Se o real n\u00e3o se adequa ao abstrato, pior para o real e para todos que nele vivem.<\/p>\n

Segundo Sowell:<\/p>\n

Quando diferen\u00e7as reais entre pessoas reais s\u00e3o mencionadas ou levadas em considera\u00e7\u00e3o por outros, os intelectuais s\u00e3o os primeiros a declarar que s\u00e3o meras “percep\u00e7\u00f5es” e meros “estere\u00f3tipos”. Evid\u00eancia para conclus\u00f5es t\u00e3o apressadas s\u00e3o raramente perguntadas ou fornecidas. Igualdade abstrata \u00e9 o ponto de partida a priori de suas suposi\u00e7\u00f5es. N\u00e3o h\u00e1 motivo algum para que pessoas abstratas tenham resultados diferentes quando suas diferen\u00e7as reais em capacidade foram, abstratamente, descartadas. (\u2026)<\/p>\n

A excepcional facilidade que os intelectuais t\u00eam para lidar com abstra\u00e7\u00f5es n\u00e3o elimina a diferen\u00e7a entre essas abstra\u00e7\u00f5es e o mundo real. Nem mesmo garante que aquilo que \u00e9 v\u00e1lido e verdadeiro para essas abstra\u00e7\u00f5es seja igualmente verdadeiro na realidade, muito menos garante que as sofisticadas vis\u00f5es abstratas dos intelectuais deveriam passar por cima das experi\u00eancias diretas das pessoas vivendo no mundo real.<\/p>\n

Os intelectuais podem, de fato, desconsiderar as “percep\u00e7\u00f5es” dos outros, rotulando-as como “estere\u00f3tipos” ou “mitos”, mas isso n\u00e3o \u00e9 o mesmo que provar que elas est\u00e3o empiricamente erradas, mesmo quando um n\u00famero not\u00e1vel de intelectuais age como se elas estivessem.<\/p>\n

Por tr\u00e1s da pr\u00e1tica disseminada de considerar diferen\u00e7as de grupo em “representa\u00e7\u00f5es” demogr\u00e1ficas, em v\u00e1rias profiss\u00f5es e institui\u00e7\u00f5es, e utilizando os n\u00edveis de renda como evid\u00eancia de discrimina\u00e7\u00e3o, existe a no\u00e7\u00e3o impl\u00edcita de que os grupos n\u00e3o podem ser diferentes ou que quaisquer diferen\u00e7as s\u00e3o culpa da “sociedade”, a qual deve corrigir seus erros e seus pecados.[5]<\/p>\n

Sowell considera que o ponto fundamental “n\u00e3o \u00e9 dizer que a intelligentsia estava enganada ou mal informada sobre determinadas quest\u00f5es”, mas “que, ao pensar em termos de pessoas abstratas num mundo abstrato, os intelectuais se furtam \u00e0 responsabilidade e ao trabalho \u00e1rduo de apreender os fatos reais sobre pessoas reais vivendo num mundo real, fatos que geralmente explicam as discrep\u00e2ncias entre o que os intelectuais veem e o que eles gostariam de ver”.<\/p>\n

Furtar-se \u00e0 realidade, a meu ver, n\u00e3o s\u00f3 \u00e9 mais trabalhoso e exige responsabilidade, como torna imprescind\u00edvel reconhecer a sua exist\u00eancia, ou seja, as suas vari\u00e1veis, nuances, limita\u00e7\u00f5es, imperfei\u00e7\u00f5es. Isso explica por que, segundo o autor, muitos intelectuais interpretam como erros do mundo as diferen\u00e7as entre teoria e realidade que est\u00e3o na origem da confus\u00e3o de entendimento do que sejam problemas sociais.<\/p>\n

Mas essa confus\u00e3o, proposital ou ideologicamente orientada, serve para justificar a implanta\u00e7\u00e3o de medidas pol\u00edticas de cima para baixo pelo poder centralizado a que os intelectuais servem em maior ou menor grau.<\/p>\n

Para os inocentes \u00fateis nas universidades, muito deles revolucion\u00e1rios de Facebook submersos no mundo abstrato de pessoas abstratas criado pelos intelectuais e pela intelligentsia (representada pelos seus professores, diretores de departamentos), a realidade representada por indiv\u00edduos concretos com uma vis\u00e3o de mundo contr\u00e1ria \u00e0 deles \u00e9 um choque. E o impacto desse contato lhes provoca repugn\u00e2ncia e rea\u00e7\u00f5es destemperadas.<\/p>\n

Trata-se de uma situa\u00e7\u00e3o interessante e um tanto absurda se considerarmos que uma parcela desses jovens ter\u00e1 contato com o mundo real atrav\u00e9s do mundo virtual. Cada atitude reacion\u00e1ria pessoalmente ou pelas redes sociais \u00e9 derivada desse espanto com a realidade. O grau de agressividade parece estar relacionado e ser proporcional ao n\u00edvel de abstra\u00e7\u00e3o desenvolvido pelo agente.<\/p>\n

O desequil\u00edbrio exposto nessas rea\u00e7\u00f5es tamb\u00e9m pode ser explicado pela sa\u00edda da zona de conforto que a ideologia prov\u00ea a partir das abstra\u00e7\u00f5es, das orienta\u00e7\u00f5es, ou das ordens emitidas por um corpo de ideias que abrange e agrega uma \u00fanica solu\u00e7\u00e3o para todos os problemas. Viver dentro dessa bolha \u00e9 mais confort\u00e1vel do que encarar a inc\u00f4moda condi\u00e7\u00e3o de manter uma vis\u00e3o cr\u00edtica (e imperfeita, sem respostas prontas e acabadas), n\u00e3o-dogm\u00e1tica, intelectualmente honesta. Acima de tudo, \u00e9 desconfort\u00e1vel a posi\u00e7\u00e3o de viver num ambiente de incertezas no qual \u00e9 preciso a cada momento assumir os riscos das pr\u00f3prias escolhas e testar a dimens\u00e3o de sua responsabilidade.<\/p>\n

“O fardo de tomar as pr\u00f3prias decis\u00f5es \u00e9, para muitas pessoas, intoler\u00e1vel. Estar vinculado \u00e0 necessidade de decidir por conta pr\u00f3pria \u00e9 ser escravo de seus pr\u00f3prios \u00edmpetos”, afirmou escritor Anthony Burgess num texto primoroso. “\u00c9 mais f\u00e1cil receber orienta\u00e7\u00f5es: fume tal cigarro \u2014 90% menos alcatr\u00e3o; leia tal livro \u2014 75 semanas na lista de best-sellers; n\u00e3o veja tal filme”, completou.<\/p>\n

Na semana passada, conversei com um professor de uma universidade federal. O seu relato deixou-me ainda mais abismado do que eu poderia imaginar previamente. O n\u00edvel do aparelhamento ideol\u00f3gico do departamento a que ele est\u00e1 vinculado j\u00e1 ultrapassou h\u00e1 muito a patologia, a estupidez e a mera desonestidade. Para tornar a hist\u00f3ria ainda mais absurda, tornou-se a v\u00edtima preferencial do chefe do departamento e dos demais professores do curso, assim como dos alunos incitados por aqueles, por n\u00e3o se submeter \u00e0quela vis\u00e3o de mundo, de sociedade, de indiv\u00edduos, de pol\u00edtica, de ideologia.<\/p>\n

Instigado pelo professor para verificar um exemplo \u00ednfimo do que ele vivencia profissionalmente, visitei a comunidade do Facebook onde esses personagens militam em detrimento da universidade e da intelig\u00eancia. O que li \u00e9 de fazer qualquer pessoa sensata duvidar que uma parte da humanidade fora agraciada com as conquistas do processo civilizat\u00f3rio. Professores e alunos competindo naquela esfera de estupidez elevada ou pretensiosa que o escritor austr\u00edaco Robert M\u00fcsil considerava como a verdadeira doen\u00e7a da cultura e que se infiltrava nas mais altas esferas intelectuais, tinha enorme influ\u00eancia dentro da sociedade e se manifestava com a participa\u00e7\u00e3o ativa “na agita\u00e7\u00e3o da vida intelectual, especialmente na sua inconst\u00e2ncia e aus\u00eancia de resultados”.[6]<\/p>\n

Naquele universo restrito da rede social, a cada tentativa de concatena\u00e7\u00e3o de falta de ideias combinadas com insultos, emergia a prova emp\u00edrica de como se desenvolveu e se manifesta essa estrutura de pensamento progressista e o horror que seus agentes expressam de forma agressiva contra o elemento de perturba\u00e7\u00e3o daquela ordem. Isso suscitava ataques e ultrajes dos mais variados contra o professor, que, diante da minha sugest\u00e3o diplom\u00e1tica, respondeu-me que em hip\u00f3tese alguma sairia daquele grupo, pois sua posi\u00e7\u00e3o era a \u00fanica nota cr\u00edtica naquela terra desolada.<\/p>\n

De alguma forma, ele acredita que suas opini\u00f5es possam influenciar um ou outro aluno ou professor, ou, ainda mais importante, demonstrar que a minoria hist\u00e9rica n\u00e3o \u00e9 a categoria exclusiva virtuosa e superior que pretende ser.<\/p>\n

Se os intelectuais e a intelligentsia consideram a discord\u00e2ncia uma ofensa, o professor usa a raz\u00e3o como instrumento de resist\u00eancia. Admiro. Apoio.<\/p>\n

[1] Uso intelectuais e intelligentsia nos sentidos atribu\u00eddos por Thomas Sowell no excelente Os Intelectuais e a Sociedade (S\u00e3o Paulo: \u00c9 Realiza\u00e7\u00f5es, 2011), ou seja, intelectual como “uma categoria ocupacional, composta por pessoas cujas ocupa\u00e7\u00f5es profissionais operam fundamentalmente em fun\u00e7\u00e3o de ideias \u2014 falo de escritores, acad\u00eamicos e afins” (p. 16) e intelligentsia como o grupo formado, “em grande parte, pelo corpo de professores, jornalistas, ativistas sociais, adidos pol\u00edticos, funcion\u00e1rios do judici\u00e1rio e outros que fundamentam suas cren\u00e7as ou a\u00e7\u00f5es a partir das ideias produzidas pelos intelectuais do primeiro escal\u00e3o” (p. 21).<\/p>\n

[2] Ibid., p. 7.<\/p>\n

[3] Mark Lilla, The Reckless Mind: Intellectuals in Politics, New York: New York Review of Books, 2001, p. 198, citado por Thomas Sowell Os Intelectuais e a Sociedade, p. 9.<\/p>\n

[4] The Vision of The Anointed, Self-Congratulation as Basis for Social Policy, New York: Basic Books, 1995<\/p>\n

[5] Thomas Sowell, Os Intelectuais e a Sociedade, p. 182-184.<\/p>\n

[6] Robert Musil, Precision and Soul: Essays and Addresses, Chicago: The University of Chicago Press, 1990, p. 284.<\/p>\n

Bruno Garschagen – 07\/04\/2016 – autor do best seller “Pare de Acreditar no Governo – Por que os Brasileiros n\u00e3o Confiam nos Pol\u00edticos e Amam o Estado” (Editora Record). \u00c9 graduado em Direito, Mestre em Ci\u00eancia Pol\u00edtica e Rela\u00e7\u00f5es Internacionais pelo Instituto de Estudos Pol\u00edticos da Universidade Cat\u00f3lica Portuguesa e Universidade de Oxford (visiting student), professor de Ci\u00eancia Pol\u00edtica, tradutor, blogger (-brunogarschagen.com), podcaster do Instituto Mises Brasil e membro do conselho editorial da MISES: Revista Interdisciplinar de Filosofia, Direito e Economia.
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